A hora de ajudar os jovens
Paulo Delgado*
Democracias ao redor do mundo, da Alemanha aos EUA, decidiram ajudar suas populações a transitar com esperança os anos que estĂŁo vindos por aĂ. O maior desafio Ă© oferecer ao jovem sua melhor inserção na sociedade. A Alemanha, que Ă© prĂłdiga nos programas de integração entre educação, empresas e atividades cĂvicas está expandindo as portas de entrada para os jovens atravĂ©s de serviços tanto de orientação civil quanto militar. Os EUA fazem referĂŞncia aberta aos programas que deram diversas ocupações aos jovens durante a depressĂŁo dos anos 1930 quando fazem tramitar no congresso formas de expandir as oportunidades de serviço para a população desocupada. O importante Ă© que jovens estejam estudando, treinando ou trabalhando. O ideal Ă© que os programas de inserção mesclem essas atividades.
O Brasil, que tem 51,3 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, tem tambĂ©m entre os jovens a maior taxa de desemprego. Acrescida da baixa esperança para o jovem estudante. Segundo o CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola, a maior entidade filantrĂłpica que atua pelos jovens no paĂs, se as ações governamentais fossem capazes de combinar programas de estudo e trabalho poderĂamos combater o desemprego e a evasĂŁo escolar ao mesmo tempo. E assim unir o desejo de inovar das empresas Ă responsabilidade pĂşblica do estado, por meio de programas de estágio e aprendizagem.Â
O estado nĂŁo precisa e nem deve fazer o papel de agente econĂ´mico. Mas ele precisa dar a direção em áreas importantes, pois essa Ă© sua função como agregador dos diversos e conflitantes interesses sociais. Se isso pode ser relaxado em tempos de vento a favor, em momentos de crise como agora Ă© essencial apontar a direção e dar as condições para que o rumo seja seguido. A dĂ©cada de 2020 começou com uma pandemia cujo precedente mais prĂłximo – a gripe espanhola – ocorreu 100 anos atrás. Se por um lado pegou um mundo muito mais complexo - mas muito mais capaz de resolver problemas do que em 1920 - por outro chegou num momento de transformações tecnolĂłgicas, geopolĂticas e sociais mais amplas do que foram os anos 1920.
Nada para assustar, porque Ă© normal que os desafios aumentem juntamente com o avanço do mundo e da capacidade humana – e tecnolĂłgica - de resolver problemas. Por várias razões, estamos vivendo o colapso espontâneo de estruturas sociais que amalgamavam e direcionavam a vida das pessoas. Isso Ă© especialmente sentido em termos de oportunidades de trabalho e renda na população mais jovem. E Ă© justamente por isso que ajudar a integrar o jovem no mercado de trabalho se tornou mais importante do que nunca. Será preciso abrir várias frentes para absorver essa população de modo a evitar o desalento, aumentar a produtividade e o tamanho da economia com consequente retorno em recursos para o estado. Se queremos ter esperança nos anos a seguir isso será uma questĂŁo de sobrevivĂŞncia do estado e da economia do paĂs. PaĂses serĂŁo julgados pela qualidade de suas polĂticas de transição.Â
                          Entre 2012 e 2015 simplesmente mais da metade dos jovens espanhóis estava desempregada. Seria isso um efeito inescapável da crise? Negativo. Nesses mesmos anos o desemprego entre os jovens alemães caiu ano após ano, mantendo-se abaixo de 10% desde 2011. Por que na Alemanha apenas um em cada dez jovens estava desempregado enquanto na Espanha era um em cada dois? Nada de questão cultural ou outras baboseiras que o preconceito vulgar tenta preguiçosamente enxergar. Afinal, durante muitos anos o desemprego na Espanha foi menor do que na Alemanha. A diferença ocorre por conta do direcionamento que o estado alemão, em parceria com empresas, ajuda a promover através de importantes instituições e programas que integram o jovem no mercado de trabalho. O que o estado alemão aprendeu a fazer - atuar em prol da harmonização da vida social com as demandas produtivas - é o aspecto que melhor funciona para o Brasil. Na crise atual a integração jovem-escola-empresa é o tripé que precisa ser expandido.
A AmĂ©rica Latina tem dois sĂmbolos interconectados que sintetizam as dificuldades da regiĂŁo em atingir seu máximo potencial – informalidade e desigualdade. NĂłs copiamos o sistema estatal europeu, mas atĂ© hoje nĂŁo conseguimos fazer a tarefa nĂşmero 1 de qualquer estado que Ă© a de formalizar os aspectos básicos da existĂŞncia das pessoas que vivem dentro de suas fronteiras. É ajudar aos jovens que precisam ser integrados a outros grupos sociais para formarmos uma verdadeira sociedade econĂ´mica prĂłspera. Para isso o estado precisa dar força para que o setor formal e produtivo cresça com qualidade e nĂŁo percamos os jovens para o crime, a baixa produtividade e o desalento.
* Professor universitário e Sociólogo - Superintendente Institucional do CIEE Nacional - contato@paulodelgado.com.br